Mais uma dos serzinhos mais competitivos do planeta, o bicho gente. (Só um aparte: odeio essa expressão "bicho gente", parece coisa de folclorista fajuto ou autor de livro infantil chinfrim. Ou do Antonio Nóbrega. Nem sei por que usei.) Esse é um desafio notoriamente masculino, que envolve geralmente uma alta dose de colesterol e pouquíssima dó do aparelho digestivo: é o Ultimate Nasty Quick Lunch Challenge. Desenvolve-se normalmente no horário do almoço, em regiões comerciais, preferencialmente nos estabelecimentos mais furrecas da área. Já aconteceu comigo. A coisa começou na calçada, onde percebi que um sujeito atrás de mim vinha andando mais rápido com o único propósito de me ultrapassar. Naturalmente, no que ele caiu no meu campo de visão periférica, eu acelerei. Entrei na lanchonete - nojenta - na frente dele, ponto meu. O cara já ficou bolado. Sentei na cadeira mais no meio do balcão, ele pegou o lugar entre a pia e o espremedor de laranja. Ou seja, passou o almoço sendo respingado por detergente com cheiro de sebo e/ou ácido cítrico. Ponto meu de novo. E ponto extra porque ele ainda vai ter que aguentar o barulho do espremedor e o cheiro dos bagaços jogados no lixo junto com os restos da coxinha, a cebola crua da salada e a borra do café. Ele já sentia que a minha vantagem aumentava a passos largos. Meu sorrisinho sacana também colaborava com a sensação. Puxamos o cardápio ao mesmo tempo, como pistoleiros em duelo. Esmiuçamos as páginas. Fechei o menu e bati na mesa: " Quero um X (sim, x, não cheesee) bacon maionese!". Deu pra sentir o calor do olhar mortífero do meu oponente na minha orelha. E então ele sacou: "Um x-EGG-bacon-maionese". O EEEEGGG foi assim mesmo, bem delineado. Não olhei pro lado, mas senti que ele sorria, satisfeito. Pedir pra acrescentar egg no meu sanduba era dar a mão à palmatoria. Fingi naturalidade. Ok, brother, 3 a 1. "E pra bebê?", mandou o Bigode atrás do balcão. " Uma coca", ele disse, possivelmente disperso com sua última tacada. Aí senti a vitória garantida: "E pra mim uma Fanta Uva". E corri pro abraço.
Levei uns três dias pra digerir esse almoço, mas tenho certeza que meu adversário não engoliu até hoje.
quinta-feira, 18 de março de 2010
Competições (nem tão) veladas - Na lanchonete pulguenta
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Um comentário:
boa!
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